Minha lembrança musical mais antiga é uma alegre brincadeira com raquetes velhas de tênis se passando por guitarras, tocando aquele disco "Oldies But Goldies", uma clássica coletânea dos Beatles de 66 que rolava na década de 70 aqui no Brasil. Eu devia ter uns sete, oito anos. Uns amigos se juntavam no meu quarto, que tinha uma vitrolinha, e a gente ficava horas curtindo aquele som, eu pirando nos riffs de guitarra, nos baixos, nas letras de uma língua que eu ainda não conhecia, enfim - tudo naquele disco era novo, era excitante, era incrível. Ali começava uma história de amor, daquelas infinitas, que transcendem o tempo e o espaço. Lá em casa não havia muitos LPs, e lembro de poucas vezes ter visto meus pais escutarem música - o que eles não sabiam é que aqueles poucos LPs simplesmente forjariam meu caráter e me transformariam na pessoa que eu sou hoje. Obviamente, sequestrei o som da sala, um maravilhoso HI-FI do meu pai com amplificador Hitachi e caixas de som Lando (que eu eventualmente destruí numa festa), e iniciei minha jornada por esse novo mundo - e eu realmente me sentia uma espécie de Marco Polo mirim, como se fosse iniciar o primeiro e maior périplo da minha existência. Eram uns 10 discos. Esses discos dizem absolutamente tudo sobre quem eu sou. Se você não me conhece pessoalmente, prazer. Essa é a minha essência. Uma pequena amostra desses discos está na playlist "Músicas da Minha Vida", que criei aqui no Spotify. Boa Viagem.