Uma cantora com personalidade de escritora. Eis Ana Clara. Na definição, uma gama extensa de significados, evidentes na construção de uma trajetória feita da maturação paciente dos passos, na escolha cuidadosa do quê, como e com quem dizer, e da certeza de que o caminho sem atalhos dos que escapam conscientes da tirania dos clichês é um esforço que vale a pena cultivar. Uma cantora com personalidade de escritora. Que enxerga cores em sons e cita Clarice Lispector e Virginia Woolf antes de Belle & Sebastian (aqueles que leem livros no palco) e Leonard Cohen (aquele que escreveu livros antes dos palcos). Que bate à porta de parceiros na busca de melodias que façam par às palavras que a fazem, na introspecção cultivada como método e persona, emprestar sentido ao que é exterior. Uma cantora com personalidade de escritora. Que escapa sem afetação dos holofotes para manter o foco – e a produção – em dia. Que sem alarde acumula singles, EP, um álbum, projetos paralelos, composições em gravinas alheias e mata a fome de palco com uma dieta de poucas, mas significativas, apresentações. (Por Elvis Rocha - trecho)